Você sabia que essa reação é importante para a nossa vida? E que, por mais que nos esforcemos, jamais conseguiremos nos livrar dela? Na melhor das hipóteses, aprenderemos a administrá-la ...
1. Qual é a primeira coisa que passa pela sua cabeça ao ouvir a palavra “estresse”? Tensão psicológica e esgotamento físico, certo? E quando você pensa em estresse, vem logo à cabeça a imagem de um executivo do século XXI às voltas com prazos, metas e reuniões, não é verdade? Pois é, para início de conversa, saiba que estresse não é tão ruim quanto as pessoas imaginam.
“O estresse é fundamental para a nossa sobrevivência. É ele que nos ajuda a lidar com adversidades, a superar obstáculos e a vencer desafios”, ensina a psicóloga Lúcia Novaes Malagris, presidente da Associação Brasileira de Stress (ABS).
E não para por aí. O estresse também não é privilégio da vida moderna. Os homens da caverna também ficavam estressados quando tinham de caçar algum animal selvagem para o jantar.
Estresse é toda e qualquer resposta fisiológica a agentes externos de natureza física ou psíquica, capazes de perturbar o equilíbrio interno. Essa reação do organismo é conhecida por alguns especialistas como “lutar ou fugir”. “O início do processo de estresse produz alterações fisiológicas no organismo como uma forma de mobilizá-lo para a ação de luta ou, então, para a reação de fuga em relação ao agente estressor”, acrescenta Lúcia.
Assim, o estresse encorajava os nossos antepassados a enfrentar as batalhas do dia a dia. Diante de alguma ameaça real ou imaginária, eles sentiam o coração disparar, os músculos enrijecerem e o corpo transpirar. Essas e outras reações são provocadas pela liberação da adrenalina e do cortisol, hormônios produzidos pelas glândulas suprarrenais. Mas quando a ameaça se dissipava tudo voltava ao normal.
APRENDA A LIDAR
Hoje, as pessoas ficam estressadas porque, a exemplo dos atletas, também têm metas a atingir e obstáculos a superar. Mas se essas metas são inatingíveis e os obstáculos, insuperáveis, podem causar níveis intoleráveis de estresse ao organismo. “Nos anos 1980, lutávamos contra o estresse, como se ele fosse um inimigo a ser combatido. Nos anos 1990, ele virou um aliado e, então, tentamos controlá-lo. De uns anos para cá, o desafio é administrar o estresse. Hoje, sabemos que, se ele ultrapassar o limite do tolerável, teremos consequências desastrosas”, analisa a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association (Isma) no Brasil.
Em tese, o estresse encoraja as pessoas a darem o melhor de si em tudo o que fazem: uma competição de atletismo, uma reunião de negócios ou uma prova de Matemática. O problema é quando o estresse torna-se excessivo ou prolongado. Aí sim, alertam os especialistas, ele começa a ser prejudicial à saúde. “Se a produção de cortisol for prolongada, como geralmente acontece em situações de estresse, ela pode debilitar o sistema imunológico. E essa baixa vai tornar o indivíduo mais vulnerável a doenças geneticamente oportunistas, como úlcera, hipertensão e até mesmo câncer”, alerta a psicóloga Marilda Novaes Lipp, presidente do Centro Psicológico do Controle do Estresse (CPCS).
ALIADO OU INIMIGO?
Há exercícios respiratórios e técnicas de relaxamento que ajudam a manter o estresse em um nível suportável. Mas quando ele ameaça fugir do controle, começam a surgir os primeiros sintomas, como perda de sono, falta de apetite e irritabilidade constante, entre outros. Por mais que se tente, ninguém consegue fugir de situações estressantes. Elas surgem a qualquer hora e quando menos se espera: pode ser uma briga no trânsito, uma discussão no trabalho ou uma notícia ruim. Devidamente administrado, o estresse pode se transformar em um importante aliado que aumenta a resistência física e melhora o desempenho profissional.
Mas, o estresse excessivo ou prolongado pode, em médio e longo prazo, afetar os mais diferentes órgãos do corpo humano e provocar diversos tipos de doenças: de asma a hipertensão, de psoríase a úlcera gástrica, de ejaculação precoce a infarto agudo do miocárdio. Um recente estudo realizado na Universidade de Yale, nos EUA, e publicado no site da revista Nature afirma que o estresse pode desencadear, ainda, o surgimento de células cancerígenas.
“Ainda é cedo para se pensar em subgrupos de risco. Mesmo assim, se comprovada, essa teoria sugere que o mecanismo para o surgimento de tumores pode ser menos complexo do que se acreditava anteriormente. Em longo prazo, qualquer informação sobre os fatores envolvidos na gênese de um tumor pode suscitar novas estratégias de prevenção ou terapia”, avalia o oncologista Carlos Gil Ferreira, coordenador do serviço de pesquisa clínica do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Para os especialistas, o elevado número de doenças associadas ao estresse pode ser explicado pelo fato de ele debilitar o sistema de defesa do organismo.
RELATIVIZANDO OS PROBLEMAS
Todos nós, sem exceção, estamos sujeitos a enfrentar determinados agentes estressores ao longo da vida. “Mais importante do que o tamanho de um determinado problema, é a maneira como a gente lida com ele. É preciso dar às dificuldades a dimensão que elas realmente têm. Sei que é fácil falar e difícil fazer. Mas é fundamental aprender a relativizar os nossos problemas. Nenhum obstáculo é tão intransponível quanto parece”, observa o cardiologista Antônio Cláudio Nóbrega, do Hospital Pró-Cardíaco do Rio de Janeiro.
Embora não possamos nos livrar do estresse como gostaríamos, podemos, sim, aprender a administrá-lo. Algumas medidas simples, como ioga ou meditação, são bastante eficazes. Aprender exercícios de respiração abdominal e, principalmente, saber como aplicá-los quando necessário ajuda a melhorar nossa capacidade de reação. “A respiração é o melhor termômetro das nossas emoções. Se estamos tensos ou ansiosos, a nossa respiração tende a ser rápida e superficial”, explica a psicóloga Ana Maria Rossi.
O primeiro passo para administrar o estresse, ensinam os especialistas, é identificar o que o está causando. Simples, não? Nem tanto. Quando sentir dificuldade para identificar a origem do estresse, comece a tomar nota das circunstâncias que envolvem a situação e, em seguida, verifique se elas seguem algum tipo de padrão. Por fim, pense em alternativas viáveis para tentar solucionar o problema. “A maioria das pessoas sabe exatamente o que provoca estresse nelas. O problema é que, em vez de tomar uma atitude, preferem reclamar da vida. No fundo, se sentem culpadas por não fazerem nada para sair da situação”,
FONTE: VIVA SAÚDE